sexta-feira, 6 de junho de 2014

Pesquisa científica "Como fica o cérebro no estado de transe"


Como fica o cérebro

no estado de transe

Pesquisa mostra redução da atividade em áreas relacionadas à criatividade e planejamento


Com tomografia, brasileiros investigam atividade cerebral de pessoas em estado de transe
Uma pesquisa1 brasileira e americana feita com dez médiuns e publicada na prestigiada revista cientifica americana Plos One observou que, quando estão psicografando, médiuns escrevem textos mais complexos do que quando estão conscientes. No entanto, usam menos as áreas do cérebro envolvidas em criatividade e planejamento. Durante a psicografia, os médiuns entram em transe e começam a escrever mensagens que, acreditam, foram ditadas por espíritos. O estudo foi apresentado pelo psicólogo clínico e doutor em neurociências e comportamento Julio Peres no 4º Simpósio Internacional de Medicinas Tradicionais e Práticas Contemplativas, promovido pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em parceria com a Associação Palas Athena, que NAMU acompanhou. Entenda como foi feita a pesquisa:


Os cientistas conduziram os médiuns brasileiros até a Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, onde foram feitos os registros. Segundo o estudo, logo após entrarem em estado de transe e escreverem textos, os médiuns foram dirigidos a um aparelho de tomografia, no qual os pesquisadores “fotografavam” o cérebro. A ideia era descobrir se áreas relacionadas ao foco, planejamento, habilidade linguística e criatividade, mobilizadas pela escrita, recebiam um fluxo maior de sangue – indicador seguro de maior atividade.
Também pediu-se aos médiuns que eles escrevessem um texto durante 25 minutos. Novamente, após a atividade, tiveram seu cérebro examinado. As redações tinham temas parecidos com aqueles escritos durante o transe: a importância da espiritualidade, princípios éticos e a importância da aproximação entre ciência e espiritualidade.


Quando compararam as imagens dos cérebros em diferentes momentos, os pesquisadores notaram diferenças. Áreas relacionadas à criatividade e planejamento recebiam menos fluxo de sangue durante a psicografia do que durante a redação em estado consciente. No entanto, os textos produzidos pelos médiuns com mais experiência durante os estados de transe ganharam notas mais altas do que aqueles produzidos conscientemente.
As redações foram avaliadas por um especialista em língua e literatura brasileira pelos mesmos critérios utilizados em provas de vestibular. O especialista analisou pontuação, ortografia, concordância verbal e nominal, colocação de pronomes, desenvolvimento do tema e consistência, entre outros critérios. As áreas do cérebro ligadas à escrita que mostraram alteração no estudo foram as seguintes: cúlmen esquerdo, hipocampo esquerdo, giro ocipital esquerdo, cíngulo, giro temporal direito superior e giro pré-central.


Estado de dissociação
Segundo os autores do estudo, os resultados indicam a impossibilidade dos médiuns estarem fingindo ao criarem os textos mais elaborados – argumento usado com frequência para exlicar os transes mediúnicos. Fingir exigiria ativação dos circuitos relacionados à criatividade e planejamento.
Os médiuns relatavam estar com a mente relaxada, o que poderia explicar a menor atividade do cérebro em geral. No entanto, somente o relaxamento não explicaria o fato de as áreas ligadas ao processo cognitivo de criar um texto terem sido menos ativadas durante estado de transe.
Para os praticantes do kardecismo, a explicação é clara: espíritos estavam ditando os textos ou escrevendo através de suas mãos. Avaliar essa hipótese não foi, é claro, a função do estudo. Os cientistas defendem que os dados, introdutórios e feitos com uma pequena amostra, podem ajudar outros pesquisadores a entender melhor o que acontece durante os chamados estados de dissociação – nome dado pela psiquiatria a fenômenos como ouvir vozes, ter visões e mudar de personalidade. “A pesquisa aponta para potencial utilidade de estudos aprofundados sobre os estados dissociativos da consciência e experiências espirituais em aumentar nosso entendimento da mente e sua relação com o cérebro”, complementam Peres e os outros autores. 
Experiências de dissociação são comuns em diversas religiões, mas costumam ser estudadas na neuroimagem apenas quando constituem fator de risco para doenças psiquiátricas, afirmam os cientistas após revisão na literatura. Para os pesquisadores, faltam estudos mais modernos sobre o que acontece no cérebro de pessoas que entram em transe sem essas doenças. “Embora o estudo de experiências espirituais como a mediunidade seja seminal para o desenvolvimento da nossa compreensão atual da mente, sua relevância foi negligenciada por pesquisadores no século passado”, apontam. 

Fonte: NAUM

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